Xis Princesa


BRISA NA BALIZA
janeiro 26, 2009, 8:24 pm
Filed under: artigos, ficaaiadica | Tags: , ,

Estava lendo um artigo de um livro que fala sobre o que hoje conhecemos popularmente por “BRISAR”. O texto analisa um quadro de Manet chamado “Dans la Serre” (ou “Na Estufa”):

Dans La Serre - Manet

… enfatizando, em certo momento, o olhar da mulher:

DetalheEla está ou não está brisando?

trecho

Nunca imaginei que poderia existir um texto sério falando sobre isso.

Livro: O Cinema e a Invenção da Vida Moderna – Texto 2

 http://books.google.com/books?hl=pt-BR&id=hfvmVIbZjFYC&dq=o+cinema+e+a+invencao+da+vida+moderna&printsec=frontcover&source=web&ots=PxdBSMiu8c&sig=2BJCNcEWxw-1eCYSEbIwKxsjgLM&sa=X&oi=book_result&resnum=10&ct=result



Batman e Hobsbawn
setembro 8, 2008, 9:38 pm
Filed under: cinema | Tags: , ,

Trabalho de terceiro bimestre da matéria de história contemporânea. ingrid, dindi, isa, mari, luiza e julia.

Análise comparativa
Batman – O Cavaleiro das Trevas
Eric Hobsbawm – Globalização, democracia e terrorismo.

O filme Batman – O Cavaleiro das Trevas difere das outras adaptações cinematográficas do Batman por possuir um tom mais realista. Gotham é uma cidade que reflete claramente os problemas político-sociais da atualidade, como a questão da corrupção, má administração, falta de liderança política, crime organizado e terrorismo, que moldam uma sociedade em que impera o medo.

Na seqüência dos barcos, o Coringa propõe um “experimento social”. Ele divide dois grupos distintos (civis e presidiários) em dois barcos munidos de explosivos. Cada um deles recebe um controle que ativa os explosivos do outro barco. Eles têm um tempo determinado para ativar o dispositivo, caso contrário, os dois barcos explodirão. Para resolver essa questão, cada barco optou por uma solução. No dos civis, houve uma votação democrática, na qual foi eleita a decisão de explodir o outro barco. Ao mesmo tempo, no dos presidiários, a discussão era calorosa, porém nada foi decidido. Mas, no fim, no barco dos civis, não houve um representante que concretizasse a decisão, apesar de um personagem ter se colocado como líder. Já no barco dos presidiários, a decisão foi tomada por apenas um deles, sem que consultasse ninguém. Isso se relaciona diretamente com o texto de Eric Hobsbawm (1), uma vez que no barco dos civis reinou uma democracia falha, em que no final eles não foram representados, pois a decisão tomada não foi concretizada pelo líder. No outro barco, foi a anarquia que dominou a maior parte da discussão, que culminou com uma decisão autoritária.

O personagem do Coringa é a personificação do caos, do crime e do mal. Ele é um psicopata sádico que tem como único objetivo destruir a ordem, o que o torna incorruptível. Seus atos terroristas (vídeos ameaçadores, explosão do hospital, telefonemas, destruição da cidade, roubo de bancos, etc.) provocam medo na sociedade, inclusive nas forças policiais.

Com o enfraquecimento da credibilidade do Estado por parte dos civis e com a perda da força da polícia, ocorre a formação de forças paralelas, no caso, o Batman. Ele age como uma alternativa de defesa civil. A ausência de um governante forte e que, de fato, represente a sociedade, faz com que esta se apóie mais na figura no Cavaleiro das Trevas do que na figura no próprio líder político.

Quando o Coringa alcança os meios de comunicação, ele passa a manipular a sociedade fazendo com que Batman perca credibilidade, fazendo-a questionar a importância do herói.

Em meio a uma sociedade enfraquecida, surge a figura do promotor de justiça Harvey Dent, que aparece como líder forte, inspirando confiança e esperança na população. Este personagem aparece como uma possível substituição do Batman, já que não recorre ao disfarce para fazer justiça. Contudo, esse novo herói é corrompido pelo Coringa, após sofrer com um de seus ataques terroristas.   

Segundo E. Hobsbawm¹, a democracia é um sistema decadente, a partir do momento em que os cidadãos não se sentem representados pelos seus líderes. A cidade de Gotham exemplifica essa decadência pois, o aparato democrático não se adequa a essa sociedade, corrompida e caótica.


 

(1)HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo (pág. 86 a 115). Companhia das Letras



Agenda – Bienal do Livro
julho 23, 2008, 9:36 pm
Filed under: ficaaiadica | Tags: ,

Conferindo a programação da Bienal este ano, um evento paralelo me chamou atenção, não custa compartilhar:

17/08 (Domingo) – Espaço Literário Ipiranga – 15h30

“Passagens: O hipertexto da modernidade” de Walter Benjamin – Com Willi Bolle

Sinopse do livro: “Passagens” (1927-1940), de Walter Benjamin, é uma das obras historiográficas mais significativas do nosso tempo. A partir de Paris, a “capital do século XIX”, especialmente suas galerias comerciais enquanto “arquipaisagem do consumo”, é apresentada a história cotidiana da modernidade – com figuras como o flâneur, a prostituta, o jogador, o colecionador, e os meios de uma escrita polifônica que vai desde a luta de classes até os fenômenos da moda, da técnica e da mídia. Este texto com mais de 4.500 “passagens” constitui um dispositivo sem igual para se estudar a metrópole moderna, e por extensão, as megacidades do mundo atual. (Fonte)’

Fica aí a dica. Lembrando, a Bienal acontece de 14 a 24 de agosto, das 10h as 22hrs no Anhembi, em São Paulo. Me procurem perto dos gibis da Mônica, hehe.



Exercício de Flanêur – Parte Dois
junho 23, 2008, 10:15 pm
Filed under: literários, palavras | Tags: , ,

Post ainda ainda nas minhas aulas de sociologia,parte minha do trabalho: Fotos da cidade com pequenas historietas baseadas nos textos do João do Rio.

 

Voltava de uma grande dor de cabeça pós uma noite de ebriedade. Vejo-me pelas ruas quase caindo em cima das sarjetas que me parecem mais camas, confortáveis camas. A cabeça se apóia no parapeito como se ele tivesse sido construído especialmente para ela. A visão tortuosa de repente ajeitou-se: Via diante de mim o velho e o novo, o agora e o depois, o convém e não convém, o moderno e o medieval. As linhas traçadas davam pro céu. Cansado, bêbado, fatigado, dormi e esqueci de todos os paradoxos revordosos da cabeça bêbada. Acordei e não passavam de edifícios.

 

O rádio toca a decisão do campeonato, por enquanto, 2 a zero. Os cobertores cheias de poeira, voam seus ácaros. Rodeando seu corpo o frio do dia ensolarado. O cachorro que dorme com as pulgas. As bitucas de cigarro daquele mal-educado. Algo que estourou sem querer. As folhas de caderno que voaram, perdendo-se para sempre. As folhas comidas das árvores. Poeira. Vento. Chuva. Sol. Tudo volta a ser limpo, a vassoura dança suja limpando toda a podridão.

 

A janela era uma mácula. A luz não poderia ultrapassá-la minimamente, se não corria o risco de queimar-lhe a pele até surgir a carne-viva. Escondia-se pelos cantos da casa como um cachorro amedrontado na prisão. Resmungava palavras sem nexo a partir de conclusões estúpidas e loucas. Alguém as vezes o visitava, sem a menor vontade. “Você está bem?” – Perguntavam. E a resposta era sempre vazia. Até que um dia chegou o rebento da terceira geração. Abriram a janela com vontade de brincar. A luz do sol esverdeou-se, ele viu a vertigem, viu o céu, nuvens, prédios, flashbacks, cantos de parede verdes. Fechou os olhos e nunca mais.

 

Posicionam-se os corredores. Ouve-se o disparo. A pista é imensa, saem. É só um treino, mas há apreensão, nervosismo, nuvem de poeira e inquietude.  Quem será o vencedor? Amanhã é dia de decisão. Um deles vai parando lentamente. Pára. Olha para o chão e vê aquela planta disforme, quase em forma de um coração. Apóia-se no chão, maravilhado, observa: O Universo dança, conspirando em cada detalhe sórdido seus ritmos cardíacos. Emociona-se. Os outros corredores já o ultrapassaram por uma volta. Ele venceu.

 

Depois de vinte e três anos, a caminho de uma padaria qualquer que vendesse qualquer cigarro, foi que vi. A luz vermelha nunca foi tão conveniente. Contemplava a cena de longe. Conversavam displicentemente, banalmente. Será que já esqueceram? É bem possível, depois de tanto tempo…  Já devem ter esquecido mesmo. Como vieram parar aqui? Como ela foi pintar o cabelo dessa cor? Por que discute com esse garoto? Será que esse garoto é “aquele”? Ela engordou. Deu vontade de chorar, e sim, certa saudade. Mas esqueceram. Virei-me de costas e fugi, calmamente, fumando meu último cigarro, sem esperança de encontrar outro.

 

Ah! Se todas essas águas fossem iguais. Termina o dia e estou aqui, imundo, descido de uma barcaça suja, precisando de um banho. Mas o sol se põe, e meus olhos não conseguem relutar em olhar para a calçada suja, eles querem o mar ainda, em tom de despedida, do mesmo jeito que o sol se despede do mar. Um homem com seu segundo olho reluta, filma sem saber a despedida.



Crônica: Exercício de Flanêur
junho 16, 2008, 5:32 pm
Filed under: crônicas | Tags: , , ,

Inspirado nas minhas aulas de sociologia.
“Não existem coisas interessantes. Existem olhares interessantes sobre as coisas” (Lira)


Nesta cidade, onde há tudo e nada ao mesmo tempo, nem vejo o tempo passar porque estou dormindo, apoiada na janela do ônibus. Abro os olhos. É um ambiente tão acolhedor… Está frio e todos estão agasalhados, menos aquele senhor sentado na sarjeta bebendo algo na sua caneca de alumínio. Ele está com calor, está em seu interior e a cidade não está lá para ele.

Se chove, todas as direções são duplicadas. As gotas caem e todos fogem, mas não vêem seus sapatos de couro refletidos nesse espelho d’agua. Que pena. Ali há um pombo pousado no alto de um poste. Ele observa o horizonte, de um lado para o outro, sua cabeça não fixa. E a multidão passa lá em baixo, e ele não vê, simplesmente não os vê.

O homem com medo e sendo perseguido, a velha senhora com uma sacola de feira no meio de uma grande avenida, o jovem ansioso esperando a namoradinha, a garota ouvindo musica impunemente, o grupo de meninos rindo de algum machismo, algumas pessoas tão parecidas… Duas bolsas iguais. Dois sapatos iguais, mas um está mais sujo, outro é maior.

Segue o corredor de ônibus, e as pessoas esperam lá, sem saber pra onde olham. As vezes alguém chama a atenção mas tem de desviar o olhar porque ela parece não gostar de ser observado… Mas vou olhar pra onde, então? Para o tênis, o canto da bolsa, o broche pousado, a formiga andando ali tão solitária! Mas formigas não andam em grupos? Pessoas andam sozinhas demais. Cada um comendo seu prato em uma mesa muito maior. “Com licença, posso sentar aqui?”. É incômodo dividir a mesa com estranhos. O silêncio gritante de dois desconhecidos! Sofremos no elevador. “São só alguns minutos, segundos, talvez”.

Há camadas de sons ecoando. Alguém falando do meu lado, a britadeira, os carros, os ônibus, as pessoas falando, os passos, as árvores chacoalhando com o vento, caixas registradoras, risos, coisas caindo no chão, um homem que toca com a colher num prato vazio, o bêbado que murmura, empurrões, coisas derrapando, sacolas de supermercado, moedas, caixas de cerveja… Quem sabe lá no fundo, o som de passarinhos?

Há camadas de cheiros também. Expressões faciais provindo desses cheiros. Cheiro de pó, de sujeira, de perfume importado, de mulher, de homem, de bebê, cimento, cigarro, arbusto, fumaça, café, suco, comida, cabeleireiro, plástico… Mas não se sente nada, todos estão gripados. No fundo quem sabe, o creme nos cabelos da garota, aqueles cabelos com aparência de molhados, mesmo depois de secos a muito tempo… O que nos irrita, talvez percebamos… Leggings… “Que mau gosto!”

Fiquei de olhos abertos. Até chegar no ponto final. Abstraí, pensei nesse texto, tudo acaba em menos de um segundo. Volto-me para meu interior, e a cidade lá fora, vivendo tudo tão descaradamente, bem na minha cara. Menos de um segundo.